Blog da turma da sala 3

domingo, 13 de julho de 2008

Pintora brasileira de 1 milhão de dólares conta como cria, pinta, corta e cola

Beatriz Milhazes explica que seu processo criativo segue um roteiro. Revelada na Geração 80, artista mantém diálogo com arquitetura e gravura.

Cria, pinta, corta e cola. A seqüência pode parecer banal, mas foram necessários mais de 20 anos de uma rotina de seis horas diárias num ateliê para que Beatriz Milhazes se tornasse a primeira pintora brasileira a ver uma tela sua valer um milhão de dólares.Veja a galeria de fotos com obras de Beatriz

Há cerca de um mês, “O Mágico” foi leiloado na Sotheby’s, em Nova York por US$ 1,049 milhão e a pintora, que também faz gravuras, agora se aventura pelo mundo da arquitetura. “Sei que isso é um fenômeno, mas se encantar é muito perigoso. As pessoas pensam que o dinheiro vai para mim, que fiquei milionária. Mas, paralelo a uma venda alta, você pode ter outra em baixa”, pondera Beatriz, de 48 anos, que compara o mercado de artes com a bolsa de valores. Do valioso quadro, ela ganhou prestígio. A obra pertencia a um colecionador quando leiloado e Beatriz não lucrou diretamente as cifras da venda. Foram tantos trabalhos que ela não sabe quantas telas pintou desde que começou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio.

Paredes do metrô de Londres ganharam a brasilidade de Beatriz. Veja galeria de fotos (Foto: Divulgação / Daisy Hutchison e Stephen White)
Na carreira, Beatriz já expôs no Japão, recebeu convites para China e Rússia, e recentemente descobriu uma peça sua comprada para um acervo de arte contemporânea no Irã. Hoje tem representação em São Paulo, Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha.

Corte, colagem e secador de cabelos
Foi nos anos 90, segundo Beatriz, que seu nome chegou ao mercado internacional e, em 2000, se estabeleceu por lá. Nessa época ela, aperfeiçoou sua técnica de corte e colagem inspirada na monotipia das gravuras.
“Me apresentaram o médium acrílico, que uso até hoje”, conta ela, que pinta cada uma de suas formas geométricas em pedaços de plástico e depois os reúne em grandes telas, como um grande decalque. São cerca de oito telas por ano, em média, que podem levar de três semanas a um ano para ficarem prontas. “Tudo exige tempo, tempo da técnica e do pensamento. Às vezes só uma parte do trabalho leva 12 horas para secar. A única coisa que a gente conseguiu para acelerar isso foi comprar um secador de cabelo”, diverte-se.

A fachada da tradicional loja inglesa Selfridge's com painel de 30 m x 40 m da pintora brasileira. Clique e veja a galeria de fotos (Foto: Divulgação)
Sete andares e 40 metros de pintura
Em 2004, Beatriz recebeu um novo desafio: participar de um projeto de arquitetura. O resultado foi um paredão de vidro de 30 m x 40 m ocupando sete andares da tradicional loja britânica Selfridge’s, em Manchester. A experiência deu tão certo que já se repetiu em escalas diferentes no metrô de Londres, na Tate Modern, também na Inglaterra e e na Taschen, em Nova York. No Brasil, a novidade deve chegar na Pinacoteca de São Paulo, com dez vidraças. Mas ela pretende unir painéis e pinturas dentro e fora da Fundação Cartier, em Paris. “Meu grande desafio é desenhar numa planta de arquitetura. Quando voltei para o ateliê, achei tudo com cara de miniatura. Adorei ficar gigante!”


No quadro 'Modinha', dá para ver o encaixe das sobreposições de cores e formas das colagens de tinta acrílica sobre a tela. Clique e veja a galeria de fotos (Foto: Divulgação / Fausto Fleury)
Geração 80
Formada em jornalismo, Beatriz nunca exerceu a profissão. A idéia de trocar as notícias pelos pincéis veio da mãe, professora de história da arte. “Acho que, no fundo, eles queriam uma artista na família”, brinca ela, que, acredite, só há pouco tempo conseguiu ter uma de suas obras em casa. “Achava complicado chegar em casa e dar de cara com um trabalho meu”, conta. Membro do grupo de artistas plásticos conhecido como Geração 80, por causa da histórica exposição "Como vai você, Geração 80?", Beatriz já deu aulas de pintura, sempre conseguiu viver da arte e não faz quadros sob encomenda. “Era como se fosse uma missão, comecei com 20 anos e nunca tive dúvidas. É muito importante ter a sobrevivência organizada, mercado é conseqüência”, ensina.

Fonte : Alícia Uchôa Do Globo.com/G1

Nenhum comentário: